Amava gravar
vídeos
seu sonho era ser uma youtuber,
ter seguidores e livro intimista
publicado.
-
Inscreva-se no meu canal!
- Não te iludas
isso vai sair de moda.
Sorria e nada ouvia,
viajava nas conchas
que escolhia na praia.
VINTE
Pesquisava na internet:
o feto fala, Fo.
Declarações subversivas
textos antropofágicos
ódio à burguesia claustrofóbica
densidade nos argumentos
- arte é posse -
escreveria, diria, Dario,
livre, liberdade!
Muitos seguidores
e
mais depressa,
policiamento, censura, ofensa,
propostas de sexo virtual...
As sensações de medo
intensificavam o sono com enredo,
sonhos eram proibidos.
Sua única partida
o
álcool qualificado, a cannabis,
sem coca,
nunca, é a heroína.
Ordenava à mente
dorme tanto quanto possível.
Ela desobedecia.
Com o cansaço do eu sujeito,
ela virava objeto.
Para seus olhos meio molhados,
o que não era percebido
sabia que não podia fazer.
Tudo está
no insondável dos olhos.
Fugia do espaço da autencidade
da sensação
de pertencimento de si mesmo
da benevolente idade,
quando
tudo então parecia verdade,
quando
tudo então era possível adiar.
TRINTA
Chegara ao mundo
dos que negociavam consigo mesmo,
punha beatitude na expressão,
fazia aflorar as expectativas da alma.
Era mulher fora do comum,
educada como se fosse um homem.
Tudo parecia melhor,
mantinha com benevolência
a distância do espaço da pantomima.
Trinta anos de esperança,
os matizes do passado
seus olhos não mais viam.
Navegava
não encalhava no que estava por vir,
- no destino -
declarava nos ventos
que a liberdade era a sua palavra de
ordem,
liberdade de vestir, de dizer,
de ignorar falas.
Na casa limpa do puro,
escrevia e falava,
mas devagar percebia,
que esse mundo sem ouvintes,
dava um sono.
QUARENTA
Quarenta anos... e cinco.
Agora sou Fulana de Tal.
Como minha vida está condicional,
fica definida a vontade
de estar em outro lugar.
P. S. – Afinidades com: Dario
Fo
Mietta Santiago
Nísia Floresta
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