sábado, 11 de fevereiro de 2017

Ver e Sentir







Cada um de nós
tem um momento
que arrepia.

O gato
antevê o cão
e cai
nas quatro patas,
na inércia.
O cão
adivinha o outro
antes de vê-lo
e não sabe
se é perigo
ou sexo.
Não se quer ver a mulher
que cansa da lida,
da mesmice,
da cobrança:
a blusa está um lixo,
o feijão está sem sal...
Não se quer sentir
medo do genro
que infelicita a filha;
da nora
que adoece o filho;
da filha e do filho
que escasseiam
a água do jardim.
Por que a morte sublima?
Porque é consequência.
Por que o medo locupleta-se
e vai além?
Porque sim.

 Não se quer ver
o medo da dor;
da estagnação
da vida do outro que se esvai;
da cena repetida
do riso que compromete.

Não se quer ver
o filho ladrão
da confiança
do sonho
da esperança.
Não se quer sentir
medo
da alma sem invólucro,
do corpo sem roupa,
da cara sem filtro.

Não se quer sentir
o medo
do desconhecido encontro consigo mesmo;
do sair da própria casa sem janelas;
da carranca do sonho da noite;
da realidade que não se pode domar.

Não se quer o medo novo,
diário,
sem fim.