quinta-feira, 26 de maio de 2016

Deus e meu deus


                        
                               




Tenho obsessão pela vida.
Meu álter ego
diz que vivo o momento.
É mentira.
Ponho a morte
que há muito não me amedronta
longe de mim.

Sou cristão
assim fui criado.
Esse é o lugar comum
do pânico com a dor,
do medo do inferno.

Beijava-se a mão do padre
santificava-se o papa
antes e depois da morte.
Ele é um santinho!

Padre sem casamento
é o onanismo na vida.
Filhos, homossexualismo,
pecados em éter.

Fui bom aluno do catecismo.
Fiz a primeira comunhão.
Meu deus é o paradoxo daquele Deus.
Mas rezo na aflição do medo
as duas orações de que não me esqueço.
De sobra,
a essência interrogativa:
a antítese do menino.                                                                                                              

terça-feira, 24 de maio de 2016

AMAMENTAÇÃO


A seiva do amor,
o paraíso da delícia,
no jardim, na planície,
alimenta por toda a vida
sem data de fim.

De pronto brota a árvore do conhecimento
com a troca entre duas mulheres
que se completam por etéreos materialismos.

E não perdem a individualidade.

Mãe hoje, avó amanhã,
a filha completa o caminho da permanência
e outra seiva correrá
na filha que será neta.

Bem-dito é o ciclo do sonho.





Malu e Pat em 04/07

quarta-feira, 11 de maio de 2016

terça-feira, 10 de maio de 2016

Pôr do Sol em si

      

Como o tempo não é uma ideia séria,
não é lamento
nem tristeza também.

Ao lado da bandeira   
quase em posição de sentido,
o braço do coração
parece acariciar a Pátria.

Compõem a cena
o vestido colorido
a face esmaecida
e sob as lentes,
os olhos
da certeza e do cansaço.

Eu me aproximo,
e os vejo,     
e só de bem perto,
e com a plenitude dos sensitivos,
emerge a explosão no cérebro.

Há uma década
ou quem sabe duas?
Ainda ouço os acordes finais
do Hino Nacional.
O sorriso da pose.
completa a imagem. 
                                                                                                                               
Não há tecnologia
que restaure o momento,
em que o sol não mais alcance,
daquele peito acelerado
pela emoção do orgulho.

O tempo apagou a luz
e ninguém mais ouvirá o que eu conto,
porque talvez não esteja aqui.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

E = M C ²


Palavras escapam-nos:
boas palavras.

Há as repetitivas.
Perdem a força.

As chatas nos incomodam:
as nossas verdades
as dos outros.
Crescem entre nossas pernas.

Juntemos as palavras
desestruturemos as convicções;
surge a estupefação.
São as pessoas em torno,
donas das palavras antíteses,
que provam o impossível.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

CÉU COM NUVENS



Olhar pros lados,

nem embaixo

nem em cima,

enxergar,

sentir a vida

traspassar-me,

ouvir as gentes

ser um igual.



Tenho feito mágica

pra sorrir

pros meus amores.

terça-feira, 3 de maio de 2016

OS URSOS E NÓS OU VICE-VERSA


O urso pardo, no final da tarde, recostado numa grande pedra ainda quente pelo sol, alisava o barrigão.

Com ele, falava aos berros outro urso também corpulento que cultivava uma barba densa e dourada. Era vaidoso, tinha o porte elegante, quase 3m e pesava cerca de 300kg. Bem-apessoado. E ele ruminava as frases: você comeu quase tudo, o dianteiro e o traseiro, nem esperou assar direito o cabrito, um cabritãozão.

Eu estava morrendo de fome, retrucou o pachorrento. Pode comer toda a sobremesa. Se você jantar a carcaça com esse coelho gordo que você trouxe, vai ficar igual ao que eu comi. Talvez até mais.

Cara-de-pau, sobrou só um pedaço da carcaça, quase sem carne e crua. Gosto é de assado, bem dourado. O coelho está como eu trouxe, no pelo ainda. Vou ter que esperar assar. Não é justo: eu cacei e estou com mais fome que você estava, porque eu corri atrás dos bichos, eu fiz a força. Você merece uma porrada bem dada.

É?! Mas você não é macho pra isso. Está fraco, com fome, cansado e sabe o que mais, vou pra minha gruta e dormir por sete meses.

Não vai mesmo, respondeu com uma bocada na barriga do companheiro. Os dois não cresceram juntos, se é que adiantaria, um veio do Alasca e o outro da Sibéria. A família do urso pardo está espalhada pelo planeta. Vive também nos Estados Unidos, México e China. Mas isso não interessa agora.

O urso caçador urrava frases ameaçadoras. Foi a pior coisa do mundo eu hoje topar com você! Você mata nossos irmãos para tomar-lhes a caça e até as mulheres. Finge que protege os desvalidos, que se importa com os mais fracos. Mata e rouba os nossos iguais pra não caçar. Ladrão! Cretino! Só pensa em você! Não respeita o espaço dos outros, fascista!

O outro ficou de pé. Tinha por baixo uns 4m e pesava 500kg ou mais.

Previu o que aconteceu? Pois ele abraçou o barbudo e abocanhou-lhe um baita pedaço da pata esquerda. Essa bocada não o matou, mas foi moral. O antagonista recuou.

Ah, ele não comeu o naco da pata do irmão. Cuspiu-o e foi embora para a gruta. Estava com muito sono.

Assim como os ursos, bem diferentes de nós, as pessoas andam mal-humoradas. Os diálogos rancorosos viram bate-boca. Dão origem a troca de ofensas, às vezes, até troca de bofetões e cusparadas. Está difícil acatar a opinião contrária à nossa.

A imunologia do brasileiro anda em baixa. Ele precisa de outra proteína agregada à H1N1. Melhor seria H1N1C1. Precisa-se de urgente civilidade. Afinal, somos os racionais.

“Por Deus, pela minha família”, por?

Por que não pelas minhas tênues convicções?